Economia
Consórcios Mantêm Trajetória de Crescimento Apoiados na Renda do Brasileiro
Consumidores que mantiveram seus empregos e consequentemente a sua renda, analisaram e optaram por investir no consórcio para aquisição bens ou contratação de serviços
Há muito se procura identificar as causas do sucesso do Sistema de Consórcios. Um dos principais fatores tem sido a educação financeira.
Estudos realizados pela assessoria econômica da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) buscaram apontar quais têm relação direta com o crescimento constante das vendas de cotas com consequente aumento do total de participantes ativos.
Luiz Antonio Barbagallo, economista da ABAC, adianta que “já constatamos que as variações na taxa Selic têm pouca influência no desempenho das comercializações de consórcios”. Contudo, a natural comparação realizada pelo consumidor sobre os custos financeiros do consórcio e outros mecanismos de parcelamento, mostra que “os cálculos sinalizam o mecanismo com custos mais baixos, em razão de ser um autofinanciamento e de disciplina e não de empréstimo,” detalha.
Sem descartar a hipótese da relação, Barbagallo assinala que “o desempenho é pouco suscetível às variações na Selic. O melhor exemplo pode ser observado no período da pandemia, quando os juros anuais estavam em um dígito e as adesões tiveram excelente desempenho.”
Os dados registrados, ao longo dos últimos 20 anos, apontam que há outros períodos na história do consórcio em que também se verifica essa pouca relação.

A principal correspondência, anotada no levantamento da ABAC, está “na alta correlação das vendas de cotas com outro fator: a renda per capita no Brasil”, explica o economista.
Ao lembrar os resultados das pesquisas anuais feitas pela associação, Barbagallo complementa fundamentando que “essa conclusão é corroborada pelas respostas dos entrevistados, que indicam o efeito da renda na decisão para a adesão ou na desistência de participação no mecanismo.”
Nos cálculos estatísticos, utilizando como variável a renda per capita familiar divulgada pela PNAD – Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2009 a 2024, em confronto com os volumes de comercialização, no mesmo período, os estudos demonstram a correlação, que atingiu 92%. “Por dedução, a renda é, sem dúvida, fundamental para as vendas. Trata-se de um dado de forte significância”, sintetiza o economista da ABAC.

Como exemplo da importância da renda no planejamento e adesão ao consórcio, Camila Stavarengo, 25 anos, solteira, analista de projetos, moradora na capital paulista, cujo conhecimento sobre o mecanismo é originário da sua família – que já adquiriu alguns veículos pelo sistema, esclareceu que “depois de muito pesquisar entre os vários tipos de parcelamento disponíveis no mercado, com juros e sem juros, optei por aderir a uma cota de consórcio de serviços.”
Por entender que a parcela se encaixava no seu orçamento ao longo da duração do grupo, estabelecido em 48 meses, Camila, que pretende utilizar o crédito em uma cirurgia plástica, destacou que “o importante é planejar e considerar o valor mensal como uma poupança com objetivo definido, o que propiciará a realização do meu sonho.”
A INFLUÊNCIA DA TAXA DE DESEMPREGO
Em outro estudo, também desenvolvido pela assessoria econômica da ABAC, o objetivo foi analisar a influência das taxas de desemprego nos negócios consorciais.
“Desemprego e renda, sem dúvida, andam de mãos dadas, porém, surpreendentemente, ao compararmos suas taxas anuais com as variações nas vendas de cotas no ano, observou-se uma correlação negativa de apenas (-17,7%). Vale esclarecer que as correlações negativas indicam que quando uma variável sobe a outra cai, e vice-versa, ou seja, se os percentuais de desemprego estão elevados, as vendas caem, e se inversamente estão em patamares baixos, as adesões crescem, mas, o que mais chamou atenção no estudo foi que essa relação, embora exista, foi baixa”, detalha Barbagallo.
Na época da pandemia, 2020 e 2021, os índices de desemprego aproximavam-se de 14%, enquanto as vendas de cotas subiram 5,1% em 2020. Mesmo com o impacto das medidas de isolamento adotadas a partir de abril e maio daquele ano, houve um salto para 14,7%, no ano seguinte. “O estudo revelou que, apesar da discrepância dos dados, muitos consumidores, que mantiveram seus empregos e consequentemente a sua renda, analisaram e optaram por investir no consórcio para adquirirem bens ou contratarem serviços”, justifica o economista.

Ao considerar o comportamento daquele consumidor que administra as finanças pessoais, Barbagallo resume que “o resultado das análises comprova que a renda é o fator fundamental para quem está disposto a seguir com seu sonho de forma disciplinada e com olhar no futuro. O desemprego, embora seja um fator de redução da renda agregada da economia, tem baixa correlação, porque aqueles que continuam com suas fontes de renda investem no seu futuro e não desistem de seu sonho”.
Os indicadores do consórcio, na maioria das vezes, vivenciam momentos próprios ao passarem ao largo das crises, “por isso, ao analisarmos desempenhos, ano após ano, nos últimos 20, verificam-se que apenas quatro, em duas décadas, apresentaram crescimento negativo”, completa o economista.
