Memórias Roqueiras de Nossa Adolescência – Os inseparáveis

Escrevo esse texto hoje, 21 de dezembro de 2025, mês do Natal. Nesta mesma época em 1973 eu e meu inseparável amigo, João Eduardo, juntamos um saco de moedinhas para a compra do LP Deep Purple In Rock. Fomos lá nas lojas Americanas, lotada, e pagamos com as ditas. Coitada da caixa, que teve que contar aquele dinheiro todo.

O Rock era uma forma de fugir da monotonia de algumas tardes nubladas em que não tínhamos nada para fazer, e o barulho dos pinos das panelas de pressão de nossas mães, soltando aquele vaporzinho no preparo da janta, para nós, era o símbolo dessa monotonia. A solução então, era colocar as bolachas na vitrola e curtir o som em uma casa em construção, do meu tio, que ficava colada com a minha. Em um dos cômodos fizemos uma espécie de clube com as paredes forradas de fotos de revistas e colocamos luzes coloridas que faziam com que o lugar parecesse um inferninho.

Naquele mesmo ano a bomba surgiu: Alice Cooper ia se apresentar no país em 1974. Toca nós dois irmos pedir ajuda financeira para os pais, pois perder o show, nem pensar, afinal, era o primeiro grande evento do gênero no Brasil, e sempre fomos superfãs do cara.

Chegou o grande dia e lá fomos nós para o Anhembi. Naquela época era moda homens usarem aqueles sapatos com a sola alta. Eu então, usava mais ainda, pois queria parecer mais alto rs rs. Desavisados, fomos com eles. Nem precisa falar que show de rock você assiste em pé, mas, até aí tudo bem, pois o problema dos sapatos viria depois.

Antes dos caras entrarem no palco a produção deixava rolar nos alto falantes as músicas do álbum The Dark Side of The Moon do Pink Floyd, pois era uma forma de controlar a ansiedade da multidão que estava lá.

Início do show e nós dois estávamos próximos ao palco.  Moçada frenética e o empurra empurra foi inevitável. A coisa começou a ficar feia e a segurança interrompeu o som, que só recomeçou após a multidão se acalmar. Isso é histórico, e é só consultar em todos os arquivos da época que tem o relato desse fato.

Saímos do Anhembi extasiados e vibrando por ver nossos ídolos de perto. Bom, já era tarde e a condução de volta para casa foi um problema. Começamos a caminhar pela marginal tietê em busca de um táxi, que só conseguimos pegar após caminhar para depois do hoje extinto Play Center. Foi aí que percebemos a bobagem de ir com os sapatos altos rs rs.

Outro evento legal foi o show da Rita Lee no ginásio do Palmeiras em 1976. Ai a ocorrência foi com a roqueira que se apresentou com uniforme de presidiária e estava grávida na época, tanto que passou mal e parou o show por uns instantes.

Agora estamos em 1977, e o Gênesis iria se apresentar no ginásio do Ibirapuera. Lá vamos nós de novo, mas aí já trabalhávamos e não foi preciso pedir auxílio financeiro para os pais.

Compramos os ingressos na porta do ginásio, pois naquela época não tinha essa loucura de hoje, onde a venda se esgota em questão de alguns minutos na internet.

Ingresso na mão, começa o corre corre para subir as escadas do ginásio em busca dos melhores lugares. Chego lá em cima, olho para trás e cadê meu amigo? Teve um pequeno acidente com o corrimão que dividia as escadas da direita e da esquerda. Naquele tumulto, ele não viu o corrimão que o acertou bem no meio das partes baixas. Recuperado o fôlego, deu tudo certo. Assistimos um show fantástico com o Phil Collins arrasando nos vocais e um jogo de luzes jamais visto naquela época.

Amizade é isso, ter boas lembranças e nunca perder o vínculo. Hoje estamos aqui, idosos, mas jovens em espírito, e ainda indo aos shows. Entre 2024 e 2025 já fomos no Deep Purple, Uriah Heep e Alice Cooper novamente, no Best Blues and Rock.

Ainda iremos em muitos outros (já compramos os ingressos para o AC/DC em fevereiro do ano que vem) e quando partirmos para a espiritualidade, será, como disse o João, ao som de Stairway to Heaven do Led Zeppelin.

ALICE COOPER NO BEST BLUES

SHOW DO DEEP PURPLE